23.3.06

Novelty Songs.


O Finisterra de hoje viaja entre o vasto espólio das chamadas Noveltysongs, composições gravadas nos Estados Unidos da América entre 1914 e1950. Do tom jocoso aos lamentos dementes, rebuscamos temas rebuscados que nunca ficaram para a história e que, aos poucos e poucos, começam a ser compilados por editoras como a germânica Trikont ou a inglesa Chrome Dreams, através das colecções “Flashbacks” e “Buzzola”. Do lado de lá do Atlântico podemos ainda destacar o trabalho levado a cabopela colecção “Dr. Demento”. Com realização e locução de Hugo Ferreira, o alinhamento do Finisterra é o que se segue:

1 - Lonzo & Oscar – I’m My Own Grandpa

2 - Ray Noble & The New Mayfair Orchestra – Repeal The Blues

3 - Hoosier Hot Shots – We like Bananas (because they have no bones)

4 - The Cats & The Fiddle – Gang Busters

5 - The Ink Spots – Mama Don’t Allow

6 - The Swallows – It Ain’t The Meat, It’s the Motion

7 - Spike Jones – Ta-Hu-Wa-Hu-Wai (Hawaiian War Chant)

8 - Blind Willie Johnson – If I Had My Way

9 - Carmen Miranda – I Yi Yi Yi Yi

10 - The Ink Spots - That Cat Is High

11 - Cab Calloway – The Scat Song

12 - Slim Gailiard & Slam Stewart – A Tip On The Numbers

13 - Connie Allen - Rocket 69

14 - Marble Scott - Just Give me a man

Lillie Mae Kirkman - He's just my size

Ronald Frankau & Monte Crick – Everyone’s got sex-appeal for someone

9.3.06

Cinisterra.

Finisterra, Novembro de 2004. Foto: EB

O Finisterra de 9 de Março alterna a dinâmica forçada de uma apresentação televisiva com a melancolia das músicas que fazem o seu alinhamento. A apresentação tem ritmo, jingle próprio e vivacidade. É feita numa ligeireza quase leviana que se opõe à verdade e densidade das canções. A locução induz em erro, portanto. Ao longo da hora, ruídos, zappings e mais ruídos servem de ponte entre as canções. E, de quando em vez, a tal voz desenquadrada apresenta agitadamente melodias tranquilas. Cinismo e contraste. Leveza e peso. Com apresentação e realização de Eduardo Brito, o Finisterra alinha-se da forma seguinte:

1 - The Smiths – How Soon Is Now

A - Fear And Loathing In Las Vegas - Drug List

3 - The Beatles – A Day In The Life

B - TV Vérité 1 - Ll. Dunn

4 - Gorillaz – Every Planet We Reach Is Dead

C - Peter Challis – Funk

5 - SylvainChauveau & Ensemble Nocturne – The Things You Said
6 - Hector Zazou & Barbara Louise Gogan – Lines

D - TV Vérité 2 - Ll. Dunn

7 - Blue Nile – Days Of Our Lives

E - Old TV Show

8 - Ashley Park – Last Train Home
9 - Kings Of Convenience – Know How
10 - The Books – Be God To Them Always
11 - My Bloody Valentine – To Here Knows When

F - AAC na TV 1987
G - TV Vérité 3 - Ll. Dunn

12 - Sean Riley – Lights Out In The City
13 - Lou Reed – I Love You

H - TV verité 4 - Ll. Dunn

14 - Damon & Naomi – Love

I - TV Verité 5 - Ll. Dunn

2.3.06

G1Z.


"Il y a quelqu'un en France qui écrit ses "Fleurs du mal" et qui ne s'appelle pas Baudelaire"
Patrice Blanc-Francard

Provocador, poeta maldito, construtor de canções. Serge Gainsbourg, o grande camaleão, deixou-nos há precisamente quinze anos. E quinze anos passados, a música mantém-no vivo: seguem-se os tributos, as versões e as edições. O Finisterra de hoje evoca um génio chamado Serge Gainsbourg. Voz e melodia, tabaco e álcool, desabafos e poemas, paixões e Jane Birkin, clássicos e inovações. Ao longo da próxima hora Lucien Ginsberg acompanha-nos do princípio ao fim: de 1958 a 1991.
Voici l'homme: Gainsbarre se bourre, Gainsbourg se barre, l'histoire se gourre...
Serge Gainsbourg nasce Lucien Ginsberg em Paris a 2 de Abril de 1928, filho de Joseph e Olia, dois judeus russos fugidos da guerra da Crimeia. A música começa cedo, com as lições de piano do seu pai. Lucien toca os clássicos enquanto estuda pintura e arquitectura, lê Apollinaire, Flaubert, Baudelaire, Vian, e ouve swing, jazz e blues.
Vai escrevendo canções e aos vinte e oito anos decide passar a chamar-se Serge. Soa-lhe mais russo que Lucien. A primeira canção que assina como Serge Gainsbourg chama-se Cha Cha Cha Intelectuel. Ao vivo apresenta-se tímido, de mãos nos bolsos. Nas entrevistas mostra-se cínico e sarcástico, a começar consigo mesmo. Em casa, compõe para festivais da canção, enriquece assim, enquanto vai brincando com as palavras da língua francesa, partindo-as, inventando-as e reconstruindo-as como ninguém. Os discos mostram a sua versatilidade enquanto compositor. Salta do jazz ao swing ao yéyé como quem vai ali e já vem. É irrequieto e anda sempre um passo à frente das modas.
Os anos sessenta trazem-lhe duas grandes paixões, ambas começadas por B: de Bardot, para quem escreve uma banda sonora imaginária ou um livro de banda desenhada e de Birkin, que conhece durante a rodagem do filme Slogan, precisamente no ano erótico de 1969. Põe Birkin de voz frágil a cantar, fotografa-a, filma-a, ama-a e regista o acto, inicialmente pensado para Bardot. E durante tudo isto, cria, compõe, provoca e volta a provocar (viu o Maio de 68 da varanda do Hotel Hilton), fuma e bebe como ninguém.
Serge entra nos anos setenta como um dos incontornáveis da música francesa. Escreve uma das mais belas canções de desamor – Je suis venu te dire que je m’envais – faz a barba numa entrevista televisiva, dá-se ao luxo de gravar um álbum conceptual, de escrever canções de embalar para Charlotte, a filhota nascida em 1971 e para experimentar novos terrenos e novas sonoridades: rock and rolla e faz cinema em 75, em 76 grava uma das suas inúmeras obras-primas, L’Homme a la Tete de Chou, pisca o olho ao disco-sound em 1978. Nos últimos anos da década, parte para a Jamaica para se dedicar à sua nova paixão, o reggae. E é com a versão reggae da Marselhesa que Serge incendeia uma França conservadora. É ameaçado pela extrema-direita, vê os seus concertos transformarem-se em motins e a tudo reage com o seu sorriso cínico e com a compra da partitura original do hino francês por uma soma astronómica. A provocação em estado gasoso chega com a aerofagia da canção Evgenie Sokolov, tema título do seu primeiro romance.
Jane diz-lhe adeus nos inícios de oitenta e Gainsbourg não mais fica o mesmo. Transforma-se em Gainsbarre, o génio bêbedo ao balcão, que queima notas de quinhentos francos, tenta acariciar Catherine Deneuve e oferece os seus serviços sexuais a uma jovem chamada Whitney Houston em directo para a televisão. Deambula de bebedeira em bebedeira, de mulher em Bambou, de provocação em provocação: faz-se de gay na recriação do clássico de Piaf, Mon Legionnaire, faz-se de pai mais que babado em Lemon Incest. Vira-se para a electrónica nos seus dois últimos álbuns: Love On The Beat, de 85 e Under Arrest, de 87, seguidos de um regresso aos palcos onde já não canta, apenas fala e fuma.
É operado ao fígado em 89 e a 12 de Outubro de 1990 aparece em público pela última vez. É um Gainsbourg debilitado e frágil que leva às lágrimas o seu produtor de sempre, Phillipe Lerichrome. Pela voz de Jane – do seu amor Jane – dedica-lhe Unknown Producer. Aproveita o poema para se despedir. Os olhos fecham-se a dois de Março de 1991.
O Finisterra de 2 de Março de 2006, dá os parabéns à RUC e assinala o décimo quinto aniversário da morte de Serge Gainsbourg. Realização, locução e texto de Eduardo Brito. Entrevistas, canções e outros sons extraídos de “De Gainsbourg à Gainsbarre”, DVD editado pela Universal. O alinhamento é o seguinte:
1 – Le Poinçonneur des Lilás (ao vivo, 1958)
2 – L’Anamour
3 – Je T’Aime, Moi Non Plus
4 – Initials BB (Essai sur la naissance d’une chanson, 1968) *
5 – Bubble Gum
6 – 69 Anée Erotique
7 – Les Roses Fanées (com Jacques Dutronc e Jane Birkin, 1974) *
8 – Je Suis Venu Te Dire Que Je M’Envais
9 - Evgenie Sokolov
10 - C’est La Cristalization Comme Dit Stendhal
11 – La Javanaise (ao vivo, 1975)
12 – La Poupée Qui Fait
13 – Sea Sex And Sun
14 – Les Papillons Noirs (com Bijou, 1978) *
15 – Lola Rastaquouère
16 – Vieille Canaille (com Eddy Mitchell, 1985)
17 – Bonnie & Clyde (ao vivo, 1985)
18 – Mon Legionnaire
19 – Unknown Producer (ao vivo, 12.10.1990) *
20 – L’Homme a La Tete de Chou
* - Inéditos.